No dia 16 de outubro a reitoria mostrou-se bastante incomodada com esse cartaz. Faço questão de divulgar, na íntegra, a crítica da reitoria, bem como a minha resposta como artista
Crítica da Reitoria:
Vários exemplares deste cartaz – assinado por um “COMITÊ UFRJ – Frente Nacional de Luta contra a Reforma Universitária” e pela AdUFRJ-Seção Sindical dos Docentes da UFRJ – foram afixados em unidades da UFRJ, especialmente naquelas sediadas no Campus da Praia Vermelha
Tendo em vista seu conteúdo, crê a Reitoria que o nome da AdUFRJ-Seção Sindical foi ali utilizado indevidamente e sem o conhecimento da entidade representativa dos docentes da universidade. Considerando, contudo, que até esta data não houve quaisquer manifestações daquela Seção Sindical do ANDES-SN e dos outros signatários que retificasse a autoria do material divulgado, a Reitoria viu-se no dever de tomar a iniciativa de reproduzi-lo e difundi-lo eletronicamente, com as considerações seguintes:São deploráveis e frustrantes o rebaixamento político, a deformação ideológica e as insinuações maliciosas perpetradas pelos conteúdos gráfico e textual do cartaz contra o processo de debate realizado e respeitosa e transparentemente conduzido pela reitoria na universidade.
Todos são testemunhas de que, com o estímulo da Reitoria, nossa instituição vem se envolvendo, intensamente, como protagonista, no debate a cerca do desafio de construção de um novo modelo acadêmico de ensino, pesquisa e extensão capaz de conduzi-la a novo estágio de sua missão histórica, em sintonia com a contemporaneidade e em benefício da sociedade brasileira.Nesse ambiente de discussão livre, democrática, séria e profunda, têm se manifestado convergências e divergências a respeito de variados temas institucionais e acadêmicos de grande complexidade e de relevância estratégica para a reestruturação e atualização da UFRJ. Mesmo atravessado pela agenda política e eleitoral de parte dos movimentos organizados da comunidade – o que é compreensível e legítimo, desde que respeitadas as regras fundamentais do convívio societário e do ethos universitário – o debate, por ação da Reitoria e por vontade da maioria dos que dele vêm participando, tem-se mantido pautado exclusivamente pelos interesses acadêmicos da instituição.É lastimável, portanto, que o esforço por mudanças, há décadas empreendido e acalentado por gerações de universitários – o qual, neste momento, já nem é mais apenas do reitor e da Reitoria, mas de toda a universidade – seja, assim, desqualificado com o amesquinhamento da discussão, com a substituição do debate sério de idéias pelo aviltamento irresponsável das posições discordantes e com a subordinação de um debate estratégico, de amplo alcance, a interesses restritos que se esgotam conjunturalmente.Para que se implante, desenvolva e consolide, a transformação necessária da UFRJ precisa do envolvimento e da participação ampla de seus estudantes, técnico-administrativos e docentes.
A coesão da comunidade – assegurados os espaços e processos para o dissenso – é, assim, fator decisivo para o avanço da instituição e requer tolerância e respeito pelas opiniões diferentes.Os movimentos organizados da comunidade e suas entidades tiveram e têm papel fundamental nos processos que, ao longo da história, vêm com enorme esforço mudando lentamente a universidade pública brasileira. Originados da tradição de auto-organização autônoma dos trabalhadores, têm, por isso, laços profundos com os princípios mais essenciais da democracia e da ética; essas tomadas como valor fundamental para aqueles segmentos sociais identificados com a práxis coletiva. Por isso, devem ser respeitados e defendidos. Mais que isso, devem ser mantidos como instâncias efetivamente democráticas, representativas e rigorosamente compromissadas com a solidariedade e com o respeito pela pluralidade de idéias.
Por fim, reiteramos a convocação de todos para acompanhar a sessão extraordinária do Conselho Universitário do próximo dia 18 de outubro, quando estará em apreciação a proposta de resolução que institui o Programa de Reestruturação e Expansão da UFRJ.
A Reitoria
Resposta do artista:Em resposta à Reitoria (ou em defesa do meu trabalho)
por Diego Novaes.
“Sua charge está no site da UFRJ!” – era o que as pessoas me diziam.
A matéria do “Olhar Virtual” do dia 16/10/2007 provocou um verdadeiro “frisson” – não pelo conteúdo da charge em si, mas pela crítica levantada pela Reitoria. Em sua ação enérgica de censura contra a ilustração de minha autoria, a Reitoria fez questão de rasgar adjetivos como “malicioso”, “deformador”, “apolítico”, “frustrante” e “deplorável”.
Senhores membros da Reitoria é de se admirar que se sintam tão lesados. Esta charge não é resultante de um processo de criação inconseqüente. Muito pelo contrário, antes mesmo de se tornar cartaz e adesivo já era amplamente conhecida e divulgada na comunidade acadêmica; uma vez que traduz o descontentamento de muitos estudantes que questionam o caráter privatista do projeto governamental que os senhores defendem com tanto afinco.
É uma atitude no mínimo infantil dos senhores, escandalizarem-se e promoverem tamanho alarde acerca de uma manifestação artística que se legitima por originar-se do senso coletivo. É lastimável que a Reitoria de tão renomada instituição de ensino superior tenha apelado para o sensacionalismo barato, no intuito de tentar sensibilizar a comunidade acadêmica em favor de seu projeto. É surreal que na antevéspera do CONSUNI do dia 18/10/2007, os senhores tenham publicado esta matéria como pretexto para sua convocatória do conselho!
Em sua análise, os senhores membros da Reitoria da UFRJ optaram por desqualificar um instrumento crítico que se propõe a instigar uma discussão tão pertinente na atual conjuntura da Universidade, que é o REUNI. Esqueceram, porém, de que todos aqueles que ocupam cargos públicos estão sujeitos a serem alvo de crítica, seja ela formalizada por escrito, discurso ou vinculada a uma imagem. Confundem irreverência com desrespeito.
Historicamente, ilustradores das mais diversas categorias e inclinações artísticas vêm especializando o desenho como forma de expressão política. No século XIX, o ítalo-brasileiro Ângelo Agostini já denunciava o sistema escravocrata no Brasil, consagrando-se o pioneiro do cartum e da charge política brasileira, não apenas por seu talento ímpar e originalidade genial, mas por ter se tornado, como chargista, um poderoso aliado dos movimentos sociais de caráter popular.
Senhores membros da Reitoria, em nome do “respeito e tolerância pelas diferentes opiniões e pluralidade de idéias”, informo-lhes que (in) felizmente continuarei desenhando.
Rio de Janeiro, 24 de outubro de 2007
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