terça-feira, 17 de junho de 2008

A CPI "esquecida"...


"Apenas de janeiro de 2003, início do primeiro mandato do governo Lula, até agora, o Brasil destinou mais de R$ 851 bilhões somente para o pagamento de juros nominais da dívida pública (interna e externa). É como se cada um dos 186 milhões de brasileiros tivesse gasto, neste período, R$ 4.570 com o pagamento da dívida! Ao mesmo tempo, os beneficiários deste pagamento são apenas 0,04% dos que têm títulos dos juros da dívida pública, ou seja, os bancos e alguns rentistas.
Enquanto isso, as políticas sociais seguem abandonadas. O país gasta menos do que 4% do PIB com educação e a saúde pública está sucateada. Esta escolha é o maior crime que se perpetra contra o povo pobre e os trabalhadores, e quem ganha são os bancos e a especulação financeira. É urgente, portanto, a investigação da dívida pública brasileira!"

2 comentários:

Diego Novaes disse...

Essa foi a minha primeira charge pro jornal Fazendo Media, que esse mês completa 5 anos. Parabéns a toda a equipe pelo ótimo trabalho!
E tenho dito.

Diego Novaes disse...

Reportage(ns) sobre o tema:

Duas CPIs, duas coberturas

O cidadão que se informa exclusivamente pelas corporações de mídia está fadado à alienação. Os exemplos são muitos e podem ser verificados em notícias de diversas áreas como saúde, educação, economia, política, internacional, entre outras. Geralmente é difícil identificar a manipulação, pois os subterfúgios utilizados são muitos. Entretanto, neste mês de fevereiro houve um acontecimento único e que serve para mostrar, de modo lapidar, que essa mídia não utiliza os critérios jornalísticos que apregoa.

Tratam-se das discussões na Câmara dos Deputados a respeito da instalação de duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI): a dos Cartões Corporativos e a da Dívida Pública. A primeira tomou conta de praticamente todos os veículos de comunicação de grande audiência. A partir das denúncias contra a ex-ministra da Igualdade Racial Matilde Ribeiro, passaram a investigar detalhes dos gastos públicos feitos com os cartões de crédito de funcionários públicos, incluindo a compra de uma tapioca por oito reais. Em que pesem as alegações de setores da esquerda que identificam uma perseguição a autoridades negras (o ministro dos Esportes, Orlando Silva, que comprou a tapioca, e Matilde Ribeiro são negros), o fato é que o uso do dinheiro público precisa mesmo ser fiscalizado. O gasto total com os cartões corporativos é de aproximadamente R$ 200 milhões por ano.

Entretanto, houve uma outra discussão na mesma Câmara dos Deputados que foi absolutamente ignorada pelas corporações de mídia: a criação da CPI da Dívida Pública. Qualquer um que conheça a importância desta CPI para o país irá, no mínimo, desconfiar da credibilidade de rádios, jornais e televisões que se pretendem sérios. Em primeiro lugar, a realização de uma CPI para investigar a dívida pública brasileira é uma prerrogativa constitucional. O artigo 26 da Constituição Federal de 1988 determina a criação desta comissão no prazo máximo de um ano a contar de sua promulgação. Ou seja, este ano completam-se 20 anos de desrespeito à Constituição. Além disso, o mesmo artigo dá poderes ao Ministério Público para encaminhar à Justiça pedido de anulação dos contratos em que forem constatadas fraudes.

Mas como essa dívida afeta a minha, a sua e também a vida de quem acredita na outra imprensa? Muito simples: segundo as contas oficiais, o Brasil deve hoje R$ 1,3 trilhão de reais e paga cerca de R$ 230 bilhões por ano de juros e amortizações, sem abater um centavo do montante total. São quase 20 vezes o valor gasto pelo no Bolsa Família, principal programa social do governo federal. Só que esse dinheiro que está sendo usado para pagar a banqueiros e especuladores internacionais poderia estar sendo usado para investimentos fundamentais em saúde, educação, habitação, segurança pública, transportes, energia e etc. Outros países adotaram este caminho e nem por isso faliram; pelo contrário, suas economias crescem mais que a do Brasil.

Apesar so silêncio absoluto da chamada grande imprensa, o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) conseguiu reunir 185 assinaturas (14 a mais que o mínimo necessário) e protocolou no dia 21 de fevereiro o requerimento para a instalação da CPI. “O país gasta apenas 4% do PIB com educação e a saúde pública está sucateada. Esta escolha é o maior crime que se perpetra contra a população excluída, e quem ganha são os bancos e a especulação financeira. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito levará necessariamente a uma auditoria da dívida, como previsto na Constituição Federal”, afirma Ivan.

Em momentos como esse fica fácil identificar quais os veículos de comunicação que estão preocupados com o desenvolvimento do país. Melhor: os que estão preocupados em fazer jornalismo.

(29 de fevereiro)