sexta-feira, 17 de abril de 2009
Criminalização da Arte Periférica
"No dia 9 de abril, o jornal O Dia, ao noticiar uma operação policial ocorrida na véspera em três comunidades de Costa Barros, deu destaque a um graffiti de nossa autoria, tratando-o como uma apologia ao crime. O graffiti traz a imagem de um rapaz de touca ninja, sem camisa, descalço e com duas pistolas nas mãos, ao lado da inscrição Projeto Primeiro Emprego, numa alusão à falta de perspectiva que acomete boa parte da juventude favelada, que a empurra rumo à criminalidade antes mesmo de esses jovens terem o seu primeiro contato com o mercado formal de trabalho. Essa abordagem tendenciosa e sensacionalista induziu não só os leitores, como outros órgãos jornalísticos, e por conseqüência, seus espectadores, a essa leitura."
É essa a importância da arte como expressão de luta e de crítica social.
A grande mídia, contudo, não perdeu tempo e logo tratou de tentar distorcer o óbvio, pra variar.
Parabéns ao Gas-Pa e a todos os companheiros do coletivo LUTARMADA por esta importante iniciativa. Vou postar o restante do texto de vocês, na íntegra, a título de comentário.
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Um comentário:
"Nós do Coletivo de Hip Hop LUTARMADA, autores da obra em questão, temos como marca principal a prática da arte como uma forma de provocar a reflexão sobre a realidade imposta aos viventes das favelas e periferias. Como se não bastasse toda a opressão vivida por sermos pretas/os, pobres, moradores e moradoras dessas comunidades precarizadas, agora a nossa arte também vem sendo atingida nesse processo que criminaliza as vítimas da pobreza. A arte como crônica social sempre existiu e não dá sinais de extinção, porém o tratamento que ela recebe pode ir de um extremo ao oposto dependendo da sua origem. Rapazes brancos de classe média como os das bandas Titãs e Capital Inicial nunca tiveram problemas com a policia por cantarem suas músicas Policia e Veraneio Vascaína, respectivamente. Já no nosso caso, não fossem as militantes dos movimentos sociais, teríamos sido presos por cantarmos a nossa indignação contra a atuação das forças de segurança pública. Nosso graffiti, injustamente atacado pela imprensa burguesa, bem poderia ilustrar músicas como Meu Guri ou Pivete, do grande e adorado astro da MPB, Chico Buarque.
Feito o contato com o autor da reportagem, ele responde ao melhor estilo José Mariano Beltrame – secretário de segurança pública do Rio de Janeiro – dizendo que se o graffiti estivesse na praia de Copacabana seria entendido como uma denúncia, mas como foi numa comunidade violenta como o Quitanda, o graffiti funciona como apologia ao crime.
O titulo da matéria trata do desenho como “Grafite com afronta às autoridades”. Se não tivesse induzindo leitores e leitoras a associá-lo a criminosos, até poderíamos assumir a afronta, pois sabemos que quando utilizamos a nossa arte para chamar as vítima do flagelo imposto pelo estado burguês para debatermos sobre as raízes do seu flagelo, quando nossa arte desperta a reflexão e o senso crítico da maioria oprimida, quando a nossa arte propõe a organização e a reação do nosso povo contra a minoria que nos oprime, é lógico, sabemos que estamos afrontando as autoridades.
A nossa arte até pode agredir, mas, por mais agressiva que ela seja nunca será tão quanto é a nossa realidade.
Como veículo de propaganda ideológica, o tal jornal cumpriu o seu papel. Como artistas comprometidos com a transformação dessa sociedade carcomida pelas injustiças do sistema capitalista, continuaremos cumprindo o nosso."
Coletivo de Hip Hop LUTARMADA/ Movimento Hip Hop Militante Quilombo Brasil
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