quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Saúde mental em debate


Fiz essa charge especificamente para este artigo sobre Saúde Mental. Resolvi publicar o texto na íntegra para que a charge não fique muito sem contexto.

Manicômio Judiciário: quando duas faces se traduzem em nenhuma
por Anne Caroline de Almeida Santos

Qual identidade que possuem os trabalhadores de um Manicômio Judiciário? Talvez esta seja uma pergunta por demais ambiciosa, se pensarmos que estamos falando de uma instituição de caráter contraditório. Mas falemos de um momento – que talvez seja histórico – onde, uma vez mais, os trabalhadores da Saúde Mental encontram uma brecha e reúnem forças para organizarem-se. Aqui, especificamente, discutimos a organização dos trabalhadores da Saúde Mental como uma tentativa de re-politização da Reforma Psiquiátrica – e dizemos isto porque é sabido que o movimento, há tempos, abandonou seu caráter político, investindo tão somente em um aprimoramento técnico, que embora necessário, viu-se que não poderia prescindir da organização política.

Mas... e o Manicômio Judiciário nessa história toda? Por que não nos identificamos, de fato, com essa organização política? A ausência dos profissionais desta instituição nesse momento de organização dos trabalhadores da rede de Saúde Mental é reveladora de certa crise de identidade, que não está no âmbito do exercício profissional isolado ou em equipe, mas no do lugar que se ocupa em uma instituição como o Manicômio Judiciário. Na briga por uma identidade que melhor traduza um hospital-prisão, rejeitamos a ideia de uma prisão, mas não ocupamos os espaços na rede de Saúde Mental. Ou seja, ao cometermos o equívoco em optar por uma faceta ou outra, não ocupamos espaço algum: não somos vistos pelo Sistema Penal e inexistimos perante a rede de Saúde Mental. Não pertencemos ao processo de Reforma Psiquiátrica porque não nos apropriamos dele. Legitimamos o lugar que nos é relegado, ainda que subliminarmente: o lugar de fracasso da Reforma Psiquiátrica. O “lugar feio” que não pode competir com os “exemplos de sucesso” – porque bonito é mostrar na novela das oito o “Harmonia Enlouquece”...

Voltando para nossa realidade institucional, o esforço de conferir uma visibilidade ao Manicômio Judiciário não depende só dos gestores – onde há que se ressaltar que há pouco mais de dois anos pudemos notar uma substantiva mudança, no sentido de abraçarmos a Reforma, que partiu de uma gestão específica. Depende da vontade e força de mobilização do coletivo de trabalhadores deste espaço institucional. Depende de que estes trabalhadores não optem por um lado ou outro da moeda em uma instituição de caráter híbrido. Só assim seremos ouvidos e teremos condições para transformar. Só assim este ornitorrinco chamado Manicômio Judiciário poderá ser visto, compreendido e transformado a partir de políticas públicas que contemplem sua especificidade.

14 comentários:

Raissa Fragelli disse...

Ficou muito legal! Demais meeesmo!

Raissa Fragelli disse...

Heei, tem como voce dar uma lida no último texto que eu fiz? Escrevi ele ontem. Tá aqui: http://raissafragelli.blogspot.com/ Valeuzão!

Unknown disse...

Oi Raah!!!

Podexá que vou ler agora!

Beijos!!

Esther disse...

Muito bons, tanto a charge quanto o artigo (Casal perfeito! Rs...)
Essa necessidade que temos, de separar tudo em gavetinhas, realmente não ajuda muito para compreendermos a realidade complexa.

Unknown disse...

Ficou foda!
O texto de saúde mental está de maravilhosa qualidades vc como sempre arrasando no desenho.
Parabéns!

Diego Novaes disse...

Oi Esther e Anastácia

A charge entra como um importante recurso na compreensão de textos ou artigos que a priori seriam direcionados a um público mais específico.

Obrigado pela visita!

Anônimo disse...

Gostei muito. Penso que a direção que a Anne dá ao texto nos faz pensar na questão da necessidade de organização política, mas estamos falando de organização política que encampe a existência de um projeto de sociedade específico, quer dizer: se queremos dar um caráter político específico aos rumos da reforma citada pela articulista, esta luta política tem que estar ligada à construção de uma outra sociedade, embasada por valores universalizantes. O que deve estar faltando (não posso apontar nada de conclusivo, até porque não possuo acúmulo algum sobre o debate específico da reforma psiquiátrica) nos profissionais é de fato a retomada da adesão à construção de uma História que objetive em si a emancipação humana, que converta-se em um projeto de vida desses trabalhadores - na verdade, a retomada da consciência de classe. A luta destes profissionais é uma dentre outras grandes lutas empreendidas pelos trabalhadores, que têm de ser realizada para garantir melhores condições de existência para as classes trabalhadoras (porque é parte constitutiva destas).

Esther disse...

Acho que temos mais um artigo aqui nos comentários. Rsrsrs...

Anônimo disse...

Ô amiga,não faz isso comigo... :)

Diego Novaes disse...

Oi Cris

Acho que você está quando diz que os profissionais de saúde mental precisam se organizar ao redor de uma ideologia baseada na consciência de classe para realizar um enfrentamento mais objetivo. Pelo que entendi, a volta do movimento organizado deles como ato político pode ser o primeiro passo para tal, desde que a perspectiva de uma idenidade de classe seja trabalhada desde agora.

Anônimo disse...

Olá Diego,

Se de fato já se iniciou um movimento de organização, penso que é condição para que eles alcancem seus objetivos não apenas uma luta corporativa, que reivindique apenas pontos de interesse das categorias envolvidas. Além de ser obrigatório um diálogo com a sociedade, é necessário a ação destes trabalhadores seja consciente, ou seja, que eles tenham determinado exatamente quais são os rumos que eles querem dar a esse movimento, assim como os objetivos que querem alcançar e os meios para isso; e se o objetivo for criar melhores condições de trabalho e melhores condições no tratamento dos pacientes, a gente vai acabar passando pelo debate de qual é a verdadeira essência da instituição. E nós sabemos que a institucionalidade burguesa tem uma funcionalidade que visa a manutenção da ordem, é um todo organizado com vistas a manutenção das relações de produção capitalistas. Por isso a organização dos trabalhadores passa necessariamente pela adesão a um projeto societário alternativo ao capitalismo, para que no final não se torne corporativista, pois uma vez que os interesses dos envolvidos sejam atendidos, o que vai restar do movimento político? E o que vai restar para a população desorganizada, que é alvo do tratamento dispensado pelo manicômio judiciário?

Diego Novaes disse...

Oi, Cris, entendo suas questões, são bastante pertinentes.

Mas eu não sou o especialista, rsrs

Como diz o Latuff, "eu sou só o cara que desenha"...

Jefferson Reishoffer disse...

Oi Diego, tudo bem?

Rapaz, como faço para entrar em contato com ela? Preciso fazer algumas perguntas, pois estou com um tema parecido, mas sob os viés da Psicologia.

Você tem o e-mail? É sua namorada, não é?

Diego Novaes disse...

Fala Jefferson!!

Vc poderá falar com a futura sumidade em Saúde Mental no Brasil através deste email:

ncarol.santos@gmail.com

Abraço!!